pierrot.

James Ensor - O desespero de pierrot

     O começo é sempre algo estranho, quando fiz uma oração pela primeira vez eu não sabia o que pedir, agradecer, em quem acreditar. O começo de uma amizade para mim é sempre algo natural, o de um relacionamento nem mesmo saí do começo. O começo da minha vida foi algo torturante, eu não queria ser criança, sinto que não nasci para algo lúdico e bonito. Hoje, porém, me sinto mais vivo, a cada esquina com uma canção nova na cabeça, a cada bar uma bebida, eu não preciso de alguém para me amar, posso baixar um aplicativo e no outro dia eu já tenho o que quero.

      Posso me considerar fácil, porém difícil de ser de ser amado, eu choro por coisas que invento da minha cabeça, sou inseguro, carente e orgulhoso. As pessoas a minha volta percebem que algo sempre me incomoda, nem mesmo eu sei o que é, mas sou um cara engraçado, não é mesmo? Você nunca me viu desse jeito, transbordando a cada palavra, soluçando tudo o que eu sinto. Sempre há outro melhor que eu, não é mesmo? Mais bonito, mais rico, que combine mais com você, minhas loucuras só são boas quando lhe convêm, no tédio da sua casa vê o meu número, que tal ligar para aquele otário? Que sempre tem algo novo para oferecer, que sempre cede ao sim, sempre sozinho, eu sou o bastante para alguém que não tem nada? Mas no dia seguinte fica complicado me manter em sua vida, eu sou muito instável, não sou bom bastante.

      E assim você, como todos em minha vida, sempre volta, eu sou uma ótima atração, excêntrico o bastante para fazer qualquer um se sentir especial, os lugares que te levo são interessantes? Meus amigos são simpáticos? Meu jeito de conversar, te anima? Eu tenho um ótimo gosto, sempre tenho algo novo para oferecer, mas eu nunca sou sua primeira opção, você vem, dorme, ri, transa, conversa, come, e vai embora como qualquer um que paga para entrar no circo que é a minha vida.