Primeiro dia da primavera

 

    Eu tenho cortado o cabelo, já faz uma semana. Eu sempre corto mais e mais e tenho a sensação estranha de que ele nunca chega em um tamanho bom ou que o corte nunca está certo de alguma forma. Essas semanas tenho me sentido excepcionalmente solitária já que morando em Taboão eu fico longe dos meus amigos e de qualquer civilização. 
Já faz um mês e meio que o Austin está longe e apesar da saudade só aumentar eu tenho me virado bem sem ele. A solidão é tão complicada, mas sinto que o vazio não tem a ver com a ausência física dele mas com minha experiência universitária, me sinto distante de todos os meus colegas de classe. acho que isso se deve ao fato de que não confio mais nas pessoas, eu não vejo mais tanta necessidade de me entregar. E apesar de passar muito tempo sozinha, minhas crises depressivas tem sido bem raras. Eu comecei a enxergar o vazio, olhar de forma tão profunda para minha solidão, eu não tenho mais medo, não quero mais provar nada pra ninguém.
A Alicia me acompanhou hoje durante a aula, ela vestia roupas todas pretas e uma bota com salto, como de costume sua boca carregava um batom vermelho, eu admiro muito ela. No próximo mês ela viaja para Berlim de vez, eu tô imensamente feliz por ela mas triste por mim, ver as pessoas que eu amo voarem para longe me faz sentir um pássaro preso, eu queria poder voar também, essa tem sido minha maior vontade. Na verdade sinto uma injustiça muito grande, na minha vez de ser jovem o mundo parece simplesmente maluco. Quando eu converso com meu namorado e amigos sinto uma estranha sensação, parece que fica implícito de que nós não teremos um futuro, mas a verdade é que eu só não consigo imaginar um. Agora nós somos adultos responsáveis com empregos e contas pra pagar mas nenhuma ilusão consegue nos entreter, é estranho mas eu não sei o que esperar para mim.

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